02 abril 2009

- Insonolência Propositada –


Silêncio aniquilante, Noites amordaçantes e Precipícios arruinados.


É meia-noite, enquanto as luzes lá fora continuam ligadas e a brilhar, eu mantenho-me acordada.
Revolvo-me por debaixo dos lençóis, e não consigo pregar olho.
O barulho ensurdecedor dos cães lá fora, o incomodativo ranger das portas, a exaltada luminosidade do quarto, o irritante pingar das torneiras, a barulhenta aparelhagem do vizinho, o tiquetaquear do relógio, a minha leprosa dor de costas…e tu…
Tu, que te mexes e te agitas contra mim.
Eu tento fechar os olhos, mas tudo á minha volta me perturba.
O dia-a-dia já é estafante o suficiente. Mortifica-me.
Chego ao fim do dia e quero é dormir, descansar em paz…mas nada me deixa, nada é pacífico e calmo.
Na clandestinidade da noite o meu corpo inflamado permanece activo.
Detêm-se vestígios dos 5 cafés que tomei ao longo do dia, pedaços de fumo, fragmentos dos calmantes e do cheiro da cidade.
O meu corpo ainda tem os restos da rua, do stress, do ruído…
O ranger da cama, de cada vez que te viras, o teu ressonar, o teu respirar, o calor do teu corpo…tudo isso me atordoa.
Vestígios indeléveis, rodopios constantes, odores gasificados, rotina assombrante, fragores estridentes…
As noites deveriam trazer-me a paz que necessito, o repouso, o conforto, mas nem isso o fazem.
São frias, agitadas, cruas, desconfortantes…
Será que o dia resolve o problema? Esse…esse é o originador da “rotina absurdamente incoerente”.
O mais triste é o facto de já nem a noite me agradar, tudo é tão incomodativo e desesperante que me deixa totalmente descontente.
Até tu me importunas a meio da noite!
Nesta noite algo insípida, como tantas outras, és tu o causador de todo o meu desassossego.
No meu quarto, estendida sobre a cama, perdida no desespero do noctambulismo, olho mais uma vez o tecto, certificando-me de não estar a ter visões ou estar a ouvir coisas.
Sim, és tu que eu ouço. Sim, és tu que eu vejo.
Podias indemnizar-me, sabes que tenho direito a um subsídio de paz!
Dá-me a minha tão necessitada paz…deixa-me!
Ouço o bater das janelas, ferozmente arremessadas pela força do vento.
Os olhos ardem-me, estão secos, tão secos que quase não consigo ver nada.
As mãos tremem-me incontrolavelmente.
O silêncio mantém-se soberano no quarto.
Ainda agora a noite começou, e vai ser longa…longa e agoniante.

Nota: Talvez seja assim que daqui a uns 10 anos vá passar as minhas belas noites.
Que ponto de vista super optimista, não? Enfim.

12 comentários:

U disse...

«As mãos tremem-me incontrolavelmente.
O silêncio mantém-se soberano no quarto.
Ainda agora a noite começou, e vai ser longa…longa e agoniante.»
Eu sentia isso, até cortar o cordãozinho :p *

eduardo maria morgado disse...

optimista? demais! não penses assim --,

mas está muito bem escrito, a sério! acredita que se há aqui alguém que escreve bem, és tu! ainda assim, muito obrigado :$

és mesmo simpática, sabias? *

al disse...

«Podias indemnizar-me, sabes que tenho direito a um subsídio de paz!» - LOL !

adorei este texto :o identifiquei-me mesmo com ele oO

até agora, o teu melhor texto :) *

Mariana Neves disse...

«No meu quarto, estendida sobre a cama, perdida no desespero do noctambulismo, olho mais uma vez o tecto, certificando-me de não estar a ter visões ou estar a ouvir coisas.»

- é tão comum sentirmos isso, e não é preciso ser noite nem nada disso, não é verdade?

gostei :) beijinho.

al disse...

bernardo soares é um semi-heterónimo de fernando pessoa .

o livro desassossega muito .

*

al disse...

este livro jamais é para ser lido, só por ler :x remexe muito nos nossos sentimentos e pensamentos mais profundos .. não é para ler de ânimo leve.

força com isso :) *

Maria disse...

Obrigada. Mesmo querida.
Eu gosteim muito deste.

Rosie disse...

gostei muito de ler. gosto da tua escrita!

beijinhos

al disse...

o livro é qualquer coisa de transcendente. lê que não te arrependes :) *

eduardo maria morgado disse...

obrigado por gostares, mesmo (:

também gosto da forma tão especial como escreves ^^

Anônimo disse...

Tu tens q? 16, 17 anos? Porque é que os miúdos da tua idade não são como tu? És uma criança (no bom sentido, quero dizer que não foste já tragada pela seriedade) com maturidade, não há nada melhor que isso.

LA disse...

Tens sempre um sofá noutra divisão e uma manta para te confortar :P

Agora mais a sério, por vezes, a situação chega a esse ponto por falta de vontade da pessoa que se deixa ir, deixa o tempo andar à espera que as coisas mudem sozinhas... Há que haver atitude e autonomia. x)

Acho que me fiz entender.
*