04 julho 2011

O inesperado é real.


O sol queimava-lhe os ombros e ela permanecia ali sentada no esplada, bebia o seu habitual café e fumava um cigarro.
Esperava uma mensagem, ele devia de estar quase a chegar.
Como era costume, ele chegava sempre atrasado, estacionava o carro no parque ao lado do café e, para além de saber que estava atrasado e que ela o esperava ansiosamente, dirigia-se até ao café de forma descontraída e molengona.
Os olhos dela sorriam ao lê-lo chegar mas para não mostrar a sua felicidade ao saber que ele estava ali, mantinha o seu ar sério e um pouco chateado devido ao atraso.
“ – Isto são horas de chegar?!” – perguntava ela tentando parecer aborrecida com o seu atraso.
“ – Estava-me a despachar…” – ele senta-se calmamente e pede outro café.
Olham-se por alguns segundos e comunicam-se assim, daquela forma silenciosa que só eles entendiam.
Põe a conversa em dia, contam as novidades um ao outro, ele implica com ela e tenta aborrece-la e ela retribuir todo aquele jogo de implicância propositada.
Foi sempre assim durante anos…todos os dias estavam juntos e, mesmo que não pronunciassem qualquer palavra, ficavam ali perto um do outro, fitam-se de maneira carinhosa e claro, sempre sorrindo.
Davam-se bem assim, por entre implicâncias e amuos, existia sempre algo mais por detrás daquelas simples briguinhas intencionadas.
Ambos sabiam que gostavam um do outro, que não era mera implicância, era necessidade de um querer a atenção do outro e do outro necessitar da presença do mesmo.
Permaneceram assim, sentiam-se bem assim…desde que ela lá estivesse ou deste de que ele lá estivesse, a vida era outra coisa.
Um dia ela recebe um telefone e dizem-lhe que ele está doente, algo grave acontece e ele foi para o hospital.
Ela tenta ficar calma e vai visitá-lo. O inesperado acontece e a sua vida muda, assim de um dia para o outro.
Hoje já não fazia sol como de costume, o vento desordenava-lhe o cabelo e baloiçava as poucas folhas que estavam no chão.
O cinzeiro deixava restos de muitos cigarros apagados, já não estava nenhum café em cima da mesa, mas sim uma garrafa de água e um lenço de papel usado.
Ao seu lado não estava ninguém, ela estava ali sozinha.
Ele já não estava ali para poder dizer-lhe como estava mal vestida e como não gostava nada da cor das unhas que tinha hoje.
Ele já não estava ali para poder pedir outro café sem açúcar e um copo com água.
Ele já não iria mais estar ali para poder dizer que, por mais que não lhe apetecesse, iria levá-la a casa.
De um momento para o outro…ele deixou de estar ali ao seu lado.
Ela já não iria tê-lo ali, já não iria ter alguém com quem implicar ou com quem contar qual o problema que a apoquentava naquela altura.
O que mais lhe costumava era saber que ele nunca mais iria estar ali ao seu lado, perdera para sempre aquela pessoa tão importante, aquela pessoa que a tinha acompanhado durante toda a sua vida…agora estaria sozinha.
Era difícil conformar-se com isso, dizem que a vida é injusta e agora ela podia comprová-lo.
Duma coisa ela podia ter a certeza, sabia que todos os momentos passados ao lado dele tinham sido marcados e ela iria sempre ter boas lembranças, isso ninguém lhe podia tirar e poderia guardar para o resto de toda a sua vida.

01 julho 2011

Mensagem da Semana XVIII


"A vida já é curta, mas nós tornamo-la ainda mais curta, desperdiçando tempo."

Vitor Hugo