25 fevereiro 2009

The Truth


"I have to protect her
Protect her? From what?... Love?
No...from Pain.
But Love is Pain."

19 fevereiro 2009

Apontamento


"A minha alma partiu-se como um vaso vazio.

Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela. São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali."

Álvaro de Campos

É impossível ficar indiferente a este poema e a tantos outros.
É por isso que Álvaro de Campos é o meu Heterónimo favorito de Fernando Pessoa, simplesmente fascinante *-*
Porque a nossa vida é tudo isto, baseia-se no tédio, no cansaço…na dúvida, na procura…mas afinal o que somos nós? Um “espalhamento de cacos” ?
Ou talvez um “vaso vazio”…?
Quiçá, nunca saberemos qual é o nosso “lugar” e muito menos o nosso “papel”…

04 fevereiro 2009

O passado é melindroso e perturba-me…


As palpitações não paravam de gemer, os gritos cravavam-se nos meus ouvidos, a escuridão apoderava-se do meu imaginário.
Percorro o som…o som de um passado relembrado.
Recordei aquela vez…o tal dia.
Nunca pensei voltar a encontrar-te, e sinceramente nunca quis.
Transmitias-me uma certa mágoa e sofrimento.
Foi numa tarde pouco solarenga, conseguia sentir a tua presença projectar-me para o horizonte.
Decidiste aparecer com aquela imensidão desgastante e febril que me trespassa.
Intensificaste as lacunas das minhas cicatrizes, os cortes profundos e desamparados, que um dia tu próprio fizeste questão de marcar.
Sabes, queria dizer-te que está tudo bem, que já não me agonias e que um dia até podíamos ir tomar um café ou coisa assim, mas os olhos ardem-me e falta-me o ar.
“ Há tanto tempo que não nos víamos…”
Enrolaste-te nas tuas próprias palavras e olhas-te para o vazio das folhas. Seria demais pedir que me olhasses nos olhos?
“ Nunca mais dizes-te nada…eu também não te quis chatear.”
Caiem-me assim estas palavras, desculpas de conveniência e auxílios de memória.
Apertei as mãos com força e inspirei com dificuldade.
“Sentis-te a minha falta?”
Não. Não queria responder a isso.
O meu olhar fugiu. Comecei a sentir o peso da angústia e da raiva.
Por mais que quisesse fingir e esconder, afectava-me, e mais do que eu própria podia imaginar.
“Já não importa, pois não.”
Lá estava eu a responder por mim e por ti.
Tentavas vaguear no vazio dos sentimentos e desviavas o olhar, deviavas as palavras e os gestos.
“Apenas gostaria de saber…”
Insistis-te.
“ Algumas.”
Algumas (?)
Algumas era pouco…todos os dias perdia um pouco da minha esperança, todos os dias deixava fugir um pedaço de vida…todos os dias me lembrava das tuas palavras…todos os dias…
Eu não te pedi que voltasses, mas também não te pedi que fosses.
Não gostava de te encontrar pelo meu caminho, sentia sempre que estava a recuar no passado, isso dava cabo de mim.
“Eu vou indo…vemo-nos por ai. Por favor, vai dando noticias.”
Assenti com a cabeça e fiquei ali a ver-te partir.
Que melancolia débil…ás vezes gostaria de me soltar de ti, corpo maldito!
Gostava de sair daqui, sair deste pensamento, sair desta alma, sair deste inferno!
Ás vezes gostava de não ter conhecido certas pessoas…ás vezes gostava que a vida fosse como um caderno. Se assim fosse, tu eras uma folha…e sabes que mais? Já te teria amarrotado, riscado, rasgado e jogado fora á muito tempo.