Percorri o corredor e deixei-me levar pelo ambiente alheio…
Via rapazes a entrarem pela porta das urgências, ouvia gritos de agonia, famílias desesperadas na sala de espera, velhinhas desorientadas nas enfermarias, cheirava-me a angústia, médicos com feições de mármore, crianças a pedirem um sorriso, homens em macas desfeitos, alvoroço e inquietação…ouvia mais uma vez um choro inerte e dolorido…
Nunca gostei de hospitais…vinha-me sempre á memória um calvário de esperanças, talvez já em cinzas.
Que lugar horripilante era aquele…tão hostil e atroz.
Sinceramente, eu não queria estar ali…
Acabei por ser arrastada pela minha pouca motivação e entrei no consultório do médico.
Do outro lado estaria um homem amável e generoso á minha espera, ele iria ajudar-me, iria apoiar-me e consolar-me.
“- Bom dia!” – o médico levantou-se da sua cadeira, estendeu-me a mão e sorriu-me com doçura.
Sentei-me na cadeira que me indicou e pousei os meus olhos nos seus, sem nada dizer.
Tinha um rosto invulgar, mas bastante afectuoso, até a sua bata branca me transmitia serenidade.
Conseguia notar uma certa preocupação no seu olhar, eu sabia muito bem o que esperar.
“ – Vejo que hoje está bem disposta.”
Acenei afirmativamente.
“ – Já fiz mais alguns exames…”
“ – Sim, eu já sei que tem andado a melhorar a passos largos.”
Voltou-me a sorrir, desta vez mais calorosamente.
Decidi retribuir o sorriso, forçosamente.
Apertei uma mão contra a outra, com muita, muita força até doer.
Não conseguia esconder todo o meu medo, era demasiado penoso…
“ – Tem que continuar a ser forte. Não pode deixar que esta doença se volte a apoderar de si.”
Olhou-me nos olhos e manteve-se sério.
Eu escondia a minha inquietação…olhava ao meu redor, aquele lugar era definitivamente estranho.
Janelas sem vida…desenhos asquerosos nas paredes pálidas…odores a sofrimento vindos do exterior…tudo aquilo metia medo e dava vontade de fugir.
Ele conseguia ler os meus pensamentos, estava atendo a cada gesto…ténue e sem remorsos, pressentia a minha dor, o meu medo…e sofria comigo.
“ – Eu tento, cada dia da minha vida, eu quero…muito. Eu sei que a minha doença é grave…”
Inspirei fundo e enfrentei a realidade.
Esconder, omitir, disfarçar, renunciar, mentir…já nada disso resultaria.
“ – Tem sido uma grande lutadora. Só tem que continuar a lutar com todas as suas forças. Sabe que se pode afastar deste abismo…ele não é eterno.”
Não saberia ao certo se isso seria verdade.
A dor era febril e manipulava-me agora o coração.O médico aconchegou as suas mãos, grandes e secas, ás minhas, pequenas e frágeis.
“ – Lute, seja forte…é por si. Não é por mais ninguém.”
“ – Eu não quero que esta doença se apodere de mim, me absorva e dê cabo de mim…eu não quero.”
A nostalgia abria-me agora as cicatrizes outrora já tapadas e cerradas com sacrifício.
Ele ouvia-me com extremo cuidado, embevecendo cada palavra minha.
Eu vi-o um pouco perdido e estonteado nesta luta…queria dar mais de si, queria dar tudo de si, mas ás vezes nem o “tudo” é suficiente.
“ – Seja forte, seja forte como sempre foi. Não desista!”
Via rapazes a entrarem pela porta das urgências, ouvia gritos de agonia, famílias desesperadas na sala de espera, velhinhas desorientadas nas enfermarias, cheirava-me a angústia, médicos com feições de mármore, crianças a pedirem um sorriso, homens em macas desfeitos, alvoroço e inquietação…ouvia mais uma vez um choro inerte e dolorido…
Nunca gostei de hospitais…vinha-me sempre á memória um calvário de esperanças, talvez já em cinzas.
Que lugar horripilante era aquele…tão hostil e atroz.
Sinceramente, eu não queria estar ali…
Acabei por ser arrastada pela minha pouca motivação e entrei no consultório do médico.
Do outro lado estaria um homem amável e generoso á minha espera, ele iria ajudar-me, iria apoiar-me e consolar-me.
“- Bom dia!” – o médico levantou-se da sua cadeira, estendeu-me a mão e sorriu-me com doçura.
Sentei-me na cadeira que me indicou e pousei os meus olhos nos seus, sem nada dizer.
Tinha um rosto invulgar, mas bastante afectuoso, até a sua bata branca me transmitia serenidade.
Conseguia notar uma certa preocupação no seu olhar, eu sabia muito bem o que esperar.
“ – Vejo que hoje está bem disposta.”
Acenei afirmativamente.
“ – Já fiz mais alguns exames…”
“ – Sim, eu já sei que tem andado a melhorar a passos largos.”
Voltou-me a sorrir, desta vez mais calorosamente.
Decidi retribuir o sorriso, forçosamente.
Apertei uma mão contra a outra, com muita, muita força até doer.
Não conseguia esconder todo o meu medo, era demasiado penoso…
“ – Tem que continuar a ser forte. Não pode deixar que esta doença se volte a apoderar de si.”
Olhou-me nos olhos e manteve-se sério.
Eu escondia a minha inquietação…olhava ao meu redor, aquele lugar era definitivamente estranho.
Janelas sem vida…desenhos asquerosos nas paredes pálidas…odores a sofrimento vindos do exterior…tudo aquilo metia medo e dava vontade de fugir.
Ele conseguia ler os meus pensamentos, estava atendo a cada gesto…ténue e sem remorsos, pressentia a minha dor, o meu medo…e sofria comigo.
“ – Eu tento, cada dia da minha vida, eu quero…muito. Eu sei que a minha doença é grave…”
Inspirei fundo e enfrentei a realidade.
Esconder, omitir, disfarçar, renunciar, mentir…já nada disso resultaria.
“ – Tem sido uma grande lutadora. Só tem que continuar a lutar com todas as suas forças. Sabe que se pode afastar deste abismo…ele não é eterno.”
Não saberia ao certo se isso seria verdade.
A dor era febril e manipulava-me agora o coração.O médico aconchegou as suas mãos, grandes e secas, ás minhas, pequenas e frágeis.
“ – Lute, seja forte…é por si. Não é por mais ninguém.”
“ – Eu não quero que esta doença se apodere de mim, me absorva e dê cabo de mim…eu não quero.”
A nostalgia abria-me agora as cicatrizes outrora já tapadas e cerradas com sacrifício.
Ele ouvia-me com extremo cuidado, embevecendo cada palavra minha.
Eu vi-o um pouco perdido e estonteado nesta luta…queria dar mais de si, queria dar tudo de si, mas ás vezes nem o “tudo” é suficiente.
“ – Seja forte, seja forte como sempre foi. Não desista!”
"o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura..."
03:00 da manhã…acordei sem qualquer vestígio de um lençol…ou de uma almofada.
Nada disto é efémero… Tu és a minha Doença, sempre foste o meu cancro.
Não há comprimidos nem cirurgias que me salvem de ti…
Queres tomar conta do meu ser...e consumir-me o que me resta.
Mas isso eu não vou deixar...vou tomar um analgésico e amanhã já nem me lembro, amanhã já não haverá dor…nem doença sequer.
Queres tomar conta do meu ser...e consumir-me o que me resta.
Mas isso eu não vou deixar...vou tomar um analgésico e amanhã já nem me lembro, amanhã já não haverá dor…nem doença sequer.
explosions in the sky - inside it all feels the same
23 comentários:
Gostei imenso. Mas não vejo como é que um analgésico poderá ajudar. Talvez no momento, mas depois a dor voltará ainda mais intensa.
Estava longe sim, mas pronto x) talvez para a próxima. Uns amigos meus foram para Portimão. ^^
E fico contente por teres gostado.
*.*
Pois, eu percebi que era essa a intenção. Olha é verdade, eu já nem me lembro se acabaste a outra cena lá da festa da Mara. Acabaste? :| Estava há bocado a pensar nisso...
Amanhã nada vai mudar a menos que nós tomemos uma medida. Eu deixo-me pelo amanhã que ganha asas e voa... para o infinito e mais além! lol xD Mas pronto, estou a tentar mudar isso.
Actualmente estou em plena mutação. Quando as coisas ultrapassam os limites, há que cortar o mal pela raíz e neste caso, o mal sou eu.
Postaaaaassssss sim que eu quero ver >.< Nem que metas tudo no pc e mandes pro meu mail. Manda para o do msn que é na boa :P e eu depois comento, respondendo ao mail.
Eu estou curiosa =X
"o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura..." Esta frase é de um video dos ornatos violeta..
"A cidade esta deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros,
Nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga,ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doenca
Quando nele julgamos ver a nossa cura" ai é tao profundo *__*
E que texto.. O amor é realmente um cancro :' nao devia. Nao mesmo! Porque as vezes parece tao boom :') mas nao é. É tao, nem sei. É remar contra a maré, só.
E a ultima parte.. *.* speechless!!
AMEI, só.
Ausentar-nos daquilo que sabemos ser mau é um desejo de todos :'s
Obrigada :')*****
O sentimento engana. É sempre forte e inconsciente :x
A musica é querida, nao é? :b t
"Nunca gostei de hospitais…vinha-me sempre á memória um calvário de esperanças, talvez já em cinzas."
Se soubesses o arrepio, frio, que me percorreu o corpo ao ler esta passagem.
E agora as palavras acabaram-se porque, definitivamente, não tenho mais para expressar como me senti a ler este texto.
Adoro a parte final da música dos Ornatos.[e estive para meter num post :O xD]
Passo a música em faixa rápida para ouvir aquela voz rouca declamando. Incrivel como isto aconteceu a partir do momento em que eu passei a ver o amor como cura. E como sabia que isso estava mal. Cada palavra que ele proferia me arrepiava e atingia. como atinge.
Sao socos no estômago. Socos na alma. :$
"A nostalgia abria-me agora as cicatrizes outrora já tapadas e cerradas com sacrifício." Adorei esta frase. pôh!
era tão bom que os amanhãs surgissem logo assim: por livre e espontanea vontade nossa...
Eu amo a "Canção segredo" do Manuel Cruz. É surreal *_*
Pois entendo, muito bem mesmo :s
É normal nao sabermos. As coisas apoderam-se de nos de uma maneira :|
O teu espaço sim, é lindo :D
Adorei, adorei e adoro explosions in the sky :D
Beijinho Silvana
Divinais e tudo e tudo e tudo! São tão completas :D
Por acaso vejo que sim :'D
Ninguém gosta de dor. E quando se vê a luz do sol brilhar para nos, nem que por breves momentos a fazer-nos esquecer a dor, é tao bom *__*
Relacionaste? :')
Obrigada :')
Como eu adorei este texto *__*
e adorei também o teu espaço Silvana. :D
um beijinho*
Está mesmo forte Sil *
brutal oh silvana !
e essa frase do manel cruz .. diz tudo não é ? -.-
beijinho :) *
Explosion in the sky *-*
escreves tão bem, menina.
Arrepia, de facto *
Sou? :O
Tu também ;DD
*****
obrigado, silvana. obrigado, simpatia (:
adorei, mesmo! as palavras foram sentidas. gosto de te ler!
e como eu adoro ornatos violeta ^^ e, sim, o amor, sempre, o sentimento indefinido, com contornos questionáveis e surpresas incessantes...
p.s. quando ler, falo contigo ;D
ps2. voltei, finalmente, das férias ^^
Obrigada, ainda bem que gostaste :)
É muito recebermos elogios quando ainda estamos a começar...
Adorei o teu texto, a forma real como descreveste o hospital e a maneira como comparaste a doença com o amor.
Estive a ver "a tua estante" e também já li alguns desses livros, são magníficos!
*.*
Vou colocar-te na minha lista, para ser mais fácil passar por aqui, muitas mais vezes *
De facto o que escrevi é o que sinto e podemos ter só 3 mesinhos mas isto já se sente a mais de um ano :D. O teu texto, lindo! A tua comparanção do amor a um cancro está muito bem feita, palavras bem colocadas, expressoes magnificas, adoreiii e tu sabes que adoro os teus textos.
Beijinho*
pois, há coisas que queremos contar e não podemos
Meu deus, que grande texto :O
Postar um comentário